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A maioria dos brasileiros, 62%, ficaria muito ou extremamente
preocupada com um diagnóstico de gordura no fígado, mas 24% desconhecem os
métodos para diagnosticar esse acúmulo.
A pesquisa Datafolha revela as percepções dos brasileiros
sobre a esteatose hepática, doença crônica que afeta aproximadamente 30% da
população mundial. O levantamento foi realizado em parceria com a Novo Nordisk
O nome técnico é conhecido por apenas 19% dos entrevistados.
Cerca de 44% dos brasileiros não conhecem nenhum termo médico para se referir
ao acúmulo de gordura no fígado. O termo mais conhecido é "cirrose",
citado por 32%. Os menos conhecidos pelo público são esteato-hepatite, 11%,
fibrose, 8%, MASH, sigla para (esteato-hepatite associada à disfunção
metabólica), 1%, e NASH (esteato-hepatite não alcoólica), 0%.
O Datafolha entrevistou 2.013 pessoas com idade média de 43
anos, entre 11 e 13 de fevereiro. A maioria dos participantes era negra e do
sexo feminino, numa amostra representativa do país que considerou região e
classe social. .
Existe uma lacuna no conhecimento sobre quais exames devem
ser feitos para diagnosticar a gordura no fígado. Entre os que responderam, 52%
mencionaram exame de sangue e 28% exame de imagem.
A gordura no fígado pode aumentar o risco de doenças
cardíacas e até tumores malignos. Apesar de ser um órgão resistente, quando a
inflamação não é tratada, pode levar à formação de cicatrizes, complicações
como cirrose hepática e, em estágios avançados, necessidade de transplante. Em
2023, o Brasil realizou 2.365 transplantes hepáticos.
Atualmente, a causa mais comum de doença hepática é o que os
especialistas chamam de esteatose hepática associada à disfunção metabólica
—quando a gordura no fígado está associada a algum fator metabólico.
"Entre esses fatores metabólicos, os mais comuns e considerados de risco
são a obesidade e o diabetes", explica Cristiane Villela, professora
titular de Clínica Médica e Hepatologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro).
É significativa a prevalência de obesidade ou sobrepeso,
condição em que o IMC (Índice de Massa Corporal) está acima de 25 kg/m². O
estudo indicou que 66% dos entrevistados estão nessa categoria. O número é
próximo ao resultado divulgado pela Federação Mundial da Obesidade, que aponta
que 68% dos adultos brasileiros têm IMC elevado.
As condições de saúde mais citadas na amostra foram pressão
alta, 22%, problemas nos ossos ou articulações, 17%, sobrepeso e obesidade,
15%, e colesterol alto, 12%. "Quanto maior o número de fatores metabólicos
que o indivíduo apresenta, maior o risco de desenvolver gordura no
fígado", afirma Villela.
Quanto aos hábitos, o consumo de bebidas alcoólicas foi
citado como outro fator de risco para doença hepática. Pouco mais da metade dos
brasileiros, 55%, consome bebidas alcoólicas. A pesquisa destaca que o
percentual de consumidores é maior entre aqueles com IMC acima de 25, assim
como o percentual que consome semanalmente: 28% no grupo com sobrepeso e
obesidade contra 24% no grupo sem sobrepeso.
Para 58% dos entrevistados, o excesso de peso é o principal
fator que contribui para o acúmulo de gordura no fígado. Em seguida, aparecem o
consumo de bebida alcoólica, 46%, sedentarismo, 43%, colesterol e/ou
triglicérides elevados, 28%, diabetes, 22%, e pressão alta, 16%.
"Ainda precisamos aumentar a conscientização da
população a respeito da gordura no fígado. É uma doença crônica, assim como a
hipertensão arterial e o diabetes", afirma a médica. Segundo Villela, é
necessário primeiro entender essa doença para depois combatê-la e, se possível,
preveni-la. "Ainda falta conscientização da população, e isso é algo que
está evoluindo no mundo todo", diz.
Sobre o tratamento, a médica afirma que não existe milagre. O
que chamou sua atenção na pesquisa Datafolha foram as respostas sobre
alternativas para tratar a gordura no fígado: 14% dos brasileiros acreditam que
chás podem servir como tratamento, 5% citaram suplementos vitamínicos e outros
5% mencionaram fitoterápicos.
"Isso me deixou extremamente preocupada", diz ela.
"Precisamos tomar muito cuidado, pois outra causa de doença hepática é a
agressão ao fígado por substâncias utilizadas sem embasamento científico. Às
vezes, um chá caseiro contém diversas substâncias prejudiciais ao fígado",
alerta.
O tratamento, segundo a médica, baseia-se em mudanças no
estilo de vida, independentemente do estágio da doença. Isso inclui alimentação
saudável, pobre em gorduras saturadas, evitando alimentos ultraprocessados e
ricos em carboidratos.
Villela ressalta também a importância da atividade física:
"Ser sedentário é prejudicial não só para o fígado, mas também para o
coração, ossos e músculos. Manter uma atividade física, mesmo que mínima, é uma
caderneta de poupança para o futuro". Ela enfatiza que o tratamento
depende muito do engajamento do paciente e de sua compreensão sobre a doença.
Por Bahia Notícias