Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
As discussões dentro do PT para que Fernando Haddad concorra
nas próximas eleições fizeram com que aliados do presidente Lula (PT)
antecipassem conversas sobre a eventual sucessão do ministro da Fazenda, caso
ele deixe o cargo em abril.
Hoje, Congresso e integrantes do governo defendem a
permanência de Haddad no comando da equipe econômica. O próprio ministro afirma
publicamente que não gostaria de disputar as eleições. Uma saída, no entanto,
entrou no radar do governo conforme crescem argumentos em favor do lançamento
de nomes fortes para as próximas eleições.
Auxiliares de Lula insistem na necessidade de um palanque
forte em São Paulo, na tentativa de garantir estrutura para a campanha do
presidente à reeleição. Os nomes de Haddad e do vice-presidente Geraldo Alckmin
(PSBsurgem como principais opções para concorrer ao governo paulista e ao
Senado.
A disputa pelos dois cargos é considerada difícil, mas muitos
petistas apontam que a dupla poderia ter um desempenho forte o suficiente para
impulsionar a candidatura de Lula no estado, mesmo que ambos sejam derrotados.
Uma articulação nesse sentido, portanto, exigiria um apelo do
presidente para que os dois fossem "sacrificados" em nome do projeto
da reeleição. Em 2022, Haddad obteve 44,7% dos votos para o governo de São
Paulo —feito apontado como fundamental para a vitória de Lula contra Jair
Bolsonaro (PL).
É nesse cenário que surgiram discussões sobre a possível
escolha de um substituto para Haddad. Petistas afirmam que, apesar da
resistência, dificilmente o ministro resistiria a um chamado do presidente.
As hipóteses são citadas, em conversas reservadas, por
ministros e auxiliares de Lula e de Haddad. As trocas poderiam envolver outro
remanejamento na equipe econômica caso a ministra do Planejamento, Simone Tebet
(MDB), saia para disputar o Senado pelo Mato Grosso do Sul.
Um nome que ganhou espaço na bolsa de apostas é o do
secretário especial de Análise Governamental da Casa Civil, Bruno Moretti. Ele
poderia ir para o Planejamento, mas alguns conselheiros de Lula apontam que a
Fazenda também seria um destino possível.
O presidente demonstra apreço por Moretti e costuma
convocá-lo para reuniões no gabinete a fim de ouvir sua opinião e tirar
dúvidas. Técnicos do governo o descrevem como um auxiliar de confiança, com
relatos de que Lula telefona diretamente para ele.
Um episódio recente é citado como exemplo dessa relação.
Quando Gleisi Hoffmann assumiu a Secretaria de Relações Institucionais, ela
quis levar Moretti para seu ministério. Em tom de brincadeira, segundo relatos,
Lula disse que Gleisi poderia levar Rui Costa e Miriam Belchior (ministro e
secretária-executiva da Casa Civil), mas teria que deixar Moretti onde estava.
Formado em ciências econômicas pela Universidade Federal
Fluminense, Moretti é visto na Esplanada como um secretário poderoso,
participando de decisões de mérito sobre medidas econômicas e fiscais.
Servidor de carreira de planejamento e orçamento, ele é tido
como uma pessoa conciliadora, atuando para minimizar impasses inclusive com o
Congresso. Moretti foi um dos principais técnicos por trás da articulação de
medidas orçamentárias e da PEC da transição, que permitiu ao governo Lula
ampliar despesas e desafogar o Orçamento. Também é destacado para a discussão
de emendas parlamentares.
Em 2024, esteve cotado para a presidência do conselho de
administração da Petrobras, do qual faz parte. No fim de maio, ele participou
da reunião em que foi debatido recuo no aumento do IOF (Imposto sobre Operações
Financeiras).
O próprio Haddad deu visibilidade a Moretti ao afirmar, em
seguidas entrevistas após a edição do decreto do IOF, que discutiu com ele a
revisão da medida. Em conversas, o ministro da Fazenda o define como preparado
e gentil.
Moretti também conversa diretamente com lideranças no
Congresso e relatores de projetos importantes para o Executivo para negociar
pontos técnicos das propostas em votação nas duas Casas, além de conversar com
analistas do mercado financeiro para explicar as medidas fiscais.
Em um momento de abalos entre conselheiros de Lula em matéria
econômica, Moretti conta ainda com a simpatia do presidente do Banco Central,
Gabriel Galípolo.
O próprio Galípolo já teve o nome lembrado para a Fazenda, em
caso de saída de Haddad. O presidente do Banco Central é um interlocutor do
presidente para temas econômicos, a ponto de ter acompanhado Lula em um
churrasco oferecido pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
dias após o desgaste público com Haddad por conta da edição do decreto do IOF.
Gaípolo tem repetido a interlocutores, porém, que é muito
feliz onde está e não pretende sair do cargo. Seu mandato como presidente do
Banco Central vai até 31 de dezembro de 2028, já sob um novo ciclo
presidencial.
Ainda que a ideia de conduzir a política econômica como
ministro da Fazenda seja considerada tentadora, integrantes do governo lembram
que as cadeiras não são muito disputadas no ano final de governo. A razão é que
esses cargos são considerados temporários, uma vez que a permanência só estaria
garantida até dezembro, quando se encerra o mandato.
Isso faz com que ministérios, que são cobiçados fora do
calendário eleitoral, passem muitas vezes a ser ocupados por integrantes da
estrutura da própria pasta. O secretário-executivo de Haddad, Dario Durigan,
seria o substituto imediato caso Lula decida por uma solução interna.
Outra possibilidade seria a escolha de outro nome técnico,
que já ocupa um cargo de confiança no governo. Além de Moretti, nesse sentido,
também é citada para eventuais mudanças na equipe econômica a atual ministra de
Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.
Por Bahia Notícias