Foto: Serviço de Emergência ucraniano via AP
Um dia antes de se reunir novamente com a Rússia para tentar
negociar um cessar-fogo, a Ucrânia atacou ao menos cinco bases aéreas do país
adversário neste domingo (1º). De acordo com a imprensa local, foram
danificados 41 aviões de guerra em regiões tão distantes da frente quanto a
Sibéria, em um dos maiores reveses de Moscou em mais de três anos de guerra.
A ofensiva ocorreu horas após a Rússia usar 472 drones e 7
mísseis para atacar a Ucrânia durante a noite, segundo Kiev —números que fazem
desta ofensiva a maior executada pelo Kremlin desde o início do conflito, em
fevereiro de 2022. Pelo menos 12 soldados morreram e mais de 60 ficaram feridos
após um projétil atingir um campo de treinamento, segundo o Exército ucraniano.
Os ataques evidenciam que as cartas militares dos dois lados
se intensificam apesar dos esforços de negociação para encerrar o conflito, uma
promessa de campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A Rússia, por exemplo, vem aumentando a quantidade de drones
lançados contra a Ucrânia em seus bombardeios noturnos —há duas semanas, Moscou
lançou 273 dispositivos contra o país vizinho, o que na época já havia superado
o então recorde de 267 artefatos russos disparados em fevereiro deste ano.
O ataque ucraniano deste domingo, no entanto, foi um dos mais
importantes da guerra até aqui. O Ministério da Defesa da Rússia confirmou
ofensivas em cinco regiões, separadas e distantes entre si—Ivanovo, Riazan,
Amur, Murmansk e Irkutsk. As defesas aéreas teriam repelido os ataques em todas
as regiões, exceto nas últimas duas, segundo a pasta.
"Nas regiões de Murmansk e Irkutsk, o lançamento de
drones de uma área próxima a aeródromos resultou em incêndios em várias
aeronaves", informou o ministério, sem especificar o número de aviões
danificados. Segundo a pasta, os incêndios foram extintos e não houve vítimas.
Alguns indivíduos envolvidos nos ataques teriam sido detidos.
Segundo o governador de Irkutsk, uma das principais divisões
administrativas da região, no leste da Rússia, este foi o primeiro ataque do
tipo naquela parte da Sibéria.
Vídeos e fotos publicados nas redes sociais mostram
bombardeiros russos em chamas na base aérea de Belaia, ao norte de Irkutsk. A
Reuters não conseguiu verificar imediatamente as imagens, mas uma autoridade de
inteligência ucraniana disse à agência de notícias que o órgão de segurança
realizou um grande ataque com drones contra 41 aeronaves militares russas.
De acordo com esse funcionário, Kiev escondeu drones
carregados de explosivos dentro de pequenos galpões de madeira que foram
levados para perto das bases aéreas em caminhões. O teto dos galpões foi
levantado por um mecanismo acionado remotamente, permitindo que os dispositivos
voassem e iniciassem o ataque.
A operação, que recebeu o codinome "Teia de
Aranha", de acordo com a autoridade de segurança ucraniana, foi necessária
pela distância dos alvos, alguns a mais de 4.000 km da linha de frente
ucraniana —distância fora do alcance dos drones ou mísseis balísticos que Kiev
possui em seu arsenal.
O ataque foi supervisionado pessoalmente pelo presidente
ucraniano, Volodimir Zelenski, e pelo chefe da agência de inteligência
doméstica, Vasil Maliuk, segundo o mesmo funcionário, que falou sob condição de
anonimato. Ele disse ainda que as aeronaves atingidas incluíam bombardeiros
Tu-95 e Tu-22, que a Rússia usa para disparar mísseis de longo alcance contra a
Ucrânia.
Também houve um ataque de drones na região de Murmansk, no
norte da Rússia, segundo autoridades locais. A base aérea de Olenia, que abriga
aviação estratégica, está localizada nessa região.
Neste domingo, Zelenski disse que a operação com drones foi
"absolutamente brilhante".
"Um resultado absolutamente brilhante. E um resultado
alcançado de forma independente pela Ucrânia," escreveu Zelenski no
aplicativo de mensagens Telegram, observando que a operação levou mais de um
ano e meio para ser preparada.
"Esta é a nossa operação de maior alcance." Falando
pouco depois, em seu pronunciamento em vídeo noturno, o líder ucraniano
destacou que 117 drones foram utilizados no ataque às bases russas. "A
Rússia sofreu perdas muito concretas, e de forma justificada," disse.
O Ministério da Defesa russo anunciou neste domingo a captura
de mais um vilarejo na região de Sumi, no nordeste da Ucrânia, onde avança com
tropas em local que pode se transformar em uma nova frente de batalha e domínio
russo. Até aqui o avanço é lento, mas cresce dia a dia na área fronteiriça
próxima à russa Kursk, onde há poucos meses tropas ucranianas eram repelidas
pelo Exército russo.
Negociadores ucranianos que estarão nas conversas entre as
partes, previstas para ocorrer na manhã desta segunda-feira em Istambul,
apresentarão ao lado russo uma proposta de roteiro para alcançar um acordo de
paz duradouro, de acordo com uma cópia do documento vista pela agência Reuters.
O roteiro proposto começa com um cessar-fogo completo de ao
menos 30 dias, seguido pela devolução de todos os prisioneiros mantidos por
cada lado da disputa e das crianças ucranianas levadas para território
controlado pela Rússia. Depois, há a previsão de uma reunião entre o presidente
ucraniano, Volodimir Zelenski e o russo, Vladimir Putin.
Segundo o plano, Moscou e Kiev trabalharão para definir os
termos com a participação dos Estados Unidos e da Europa. Autoridades
ucranianas disseram no início desta semana que enviaram o plano ao lado russo
antes do encontro.
Os termos ucranianos, no entanto, são em grande parte os
mesmos termos anteriormente apresentados por Kiev, segundo o documento.
As diretrizes excluem qualquer restrição à força militar
ucraniana após a assinatura de um acordo de paz, qualquer reconhecimento
internacional da soberania russa sobre partes da Ucrânia tomadas pelo Kremlin e
reparações a Kiev. O documento também afirma que a localização atual da frente
de batalha será o ponto de partida para negociações sobre território.
Os termos divergem consideravelmente das exigências que a
Rússia fez publicamente nas últimas semanas, o que indica que as conversas
podem seguir se arrastando.
Por Bahia Notícias