Foto: Ricardo Stuckert / PR
Integrantes de partidos de centro e de centro-direita que
apoiam formalmente o Palácio do Planalto colocaram em segundo plano a esperada
reforma ministerial de Lula e dizem que se ela sair do papel, mesmo após sete
meses de atraso, pouca coisa deve mudar tanto na relação com o governo como nas
articulações para 2026.
No ano passado, governistas prometiam para novembro, logo
após o encerramento das eleições municipais, um rearranjo das cadeiras
ministeriais como forma de privilegiar aliados que saíram fortalecidos das
urnas e que estivessem comprometidos em subir no palanque eleitoral de Lula.
Por ora, o presidente trocou apenas petistas por petistas,
além de substituir nomes de uma pasta do União Brasil (Comunicaçõese do PDT
(Previdênciadevido a suspeitas que recaíram sobre os titulares.
De acordo com integrantes de União Brasil, PSD, MDB, PP e
Republicanos —o quinteto aliado de Lula fora da esquerda—, o governo perdeu o
timing para mudanças de impacto do ponto de vista do apoio congressual e da
formação de uma aliança em busca de um quarto mandato.
O principal sinal ocorreu com a troca do petista Alexandre
Padilha pela também petista Gleisi Hoffmann como chefe da articulação política,
em fevereiro.
Naquele momento, líderes do centrão defendiam um choque na
estrutura da gestão, com a redução dos espaços do PT até mesmo na chamada
cozinha do Palácio do Planalto e com a entrega da articulação política para um
nome como o do líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).
Com a renovação da cúpula do Congresso no início daquele mês,
com a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PBpara o comando da Câmara e de
Davi Alcolumbre (União Brasil-APpara o do Senado, trabalhava-se no grupo a
ideia de emplacar no governo nomes como o ex-presidente da Câmara Arthur Lira
(PP-AL), o que não prosperou.
A proximidade das eleições de 2026 é uma contribuição a mais
para a falta de interesse, já que ministros que forem concorrer ao pleito devem
deixar o cargo até março, o que daria cerca de dez meses apenas de presença na
Esplanada aos próximos titulares
Em meio à indefinição de Lula, os cinco partidos de centro e
de direita tem enfileirado derrotas ao Palácio do Planalto, abrigam
consideráveis núcleos de oposição aberta e estimulam nos bastidores e
publicamente uma candidatura presidencial do governador Tarcísio de Freitas
(Republicanos-SP—que com o apoio de Jair Bolsonaro (PLteria o potencial de
unir todos esses partidos, dizem.
O grupo apregoa que uma coisa é a aliança para garantir a
governabilidade do Executivo no Congresso e outra, bem diferente, é o apoio
para 2026.
Apesar da alegada descrença e insatisfação, nenhum dos cinco
partidos dá sinais de que pretende entregar em 2025 algum dos 11 ministérios
que controlam, nem recusar eventuais ofertas. Havia lá atrás, por exemplo,
rumores da entrega de duas pastas comandadas pelo PT, Desenvolvimento Agrário e
Desenvolvimento Social.
Um cardeal do grupo afirma que, apesar de dificilmente algum
nome político aceitar neste momento ingressar na Esplanada, o governo ainda não
perdeu "o tempo dos técnicos", indicando que o centrão tem interesse
em indicar pessoas de confiança sem filiação partidária para chefiar
ministérios considerados atrativos.
A data mais provável apresentada por todos de definição sobre
permanência no governo, e mediante quais condições, é o primeiro trimestre do
ano que vem. Próxima a essa data, serão avaliadas variáveis como popularidade
do governo, real intenção e favoritismo de Lula para disputar um quarto mandato
e o nome a ser apoiado por Bolsonaro.
No atual nível de popularidade, por exemplo, há nesse grupo
pouco interesse em se atrelar à imagem do Executivo, diante do desgaste que
isso pode gerar entre eleitores de direita.
Além disso, graças ao aumento expressivo das emendas
parlamentares, deputados e senadores não são mais dependentes da força do
governo para abastecer seus redutos eleitorais e, portanto, não precisariam
ingressar na Esplanada para se promover politicamente em suas bases.
Além do atraso e da indefinição de Lula, integrantes do
centrão reclamam de que a distribuição dos ministérios entre os partidos,
desenhada na transição do governo em 2022, está desequilibrada e não condiz com
os votos que cada uma das legenda entrega ao Executivo em votações no
Congresso.
Haveria, por exemplo, um desequilíbrio na distribuição entre
senadores e deputados —com maior espaço aos senadores. Alcolumbre, por exemplo,
é o principal padrinho das indicações do União Brasil.
Diante da instabilidade de sua base, o presidente tem
apostado mais numa aproximação com Motta e Alcolumbre, estabelecendo uma
relação direta com os presidentes de Câmara e Senado.
Neste ano, até o momento, o presidente da República fez
trocas em nomes do PT: Sidônio Palmeira no lugar de Paulo Pimenta na Secom
(Secretaria de Comunicação da Presidência); Gleisi no lugar de Padilha na
Secretaria de Relações Institucionais; Padilha no lugar de Nísia Trindade na
Saúde; e Márcia Lopes no lugar de Cida Gonçalves na pasta das Mulheres.
Além das mudanças no PT, Lula fez outras duas mudanças na
Esplanada: na Previdência, com a saída de Carlos Lupi para a chegada de Wolney
Queiroz, em meio ao escândalo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social); e
nas Comunicações com a chegada de Frederico de Siqueira Filho no lugar de
Juscelino Filho, afastado após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da
Repúblicasob acusação de corrupção e outros crimes relacionados ao desvio de
emendas.
A possível próxima troca ainda é no campo da esquerda, com
Guilherme Boulos (PSOLsubstituindo Márcio Macêdo (PTna Secretaria-Geral da
Presidência.
Por Bahia Notícias