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Um grupo de filiados do PSDB tirou a manhã deste sábado (24)
para debater a fusão com o Podemos, demandar a presença de representantes
paulistas na convenção do partido e defender a preservação dos tucanos -apenas
enquanto símbolo partidário.
Ao menos 85 tucanos, os filiados, discutiram os rumos da
sigla por cerca de três horas no auditório do Sindicato dos Engenheiros, na
região central de São Paulo. Segundo os organizadores do evento, também foram
85 as assinaturas coletadas em uma moção com demandas à executiva nacional, que
selará o futuro do partido em convenção marcada para o dia 5 de junho.
No fim de abril, a executiva nacional, comandada pelo
ex-governador de Goiás Marconi Perillo, aprovou o início do processo de fusão
com o Podemos.
Neste sábado, em São Paulo, durante a discussão, os presentes
reconheceram a crise vivida pelo partido, que encolheu consideravelmente e
sofre com a debandada de quadros importantes, como o governador gaúcho, Eduardo
Leite, que migrou para o PSD no último dia 9.
No entanto, houve críticas à forma como as conversas com o
Podemos são conduzidas e ao fato de São Paulo, o estado que deu origem ao PSDB
e que foi comandado pelo partido por quase 30 anos, não ter direito a voto na
convenção nacional por estar sob comando provisório.
"O partido ficou sem referência política aqui no estado.
Isso fez com que tivesse uma preocupação da direção nacional de fazer um novo
movimento em São Paulo, só que feito, ou pensado, por gente que não é de São
Paulo", disse à Folha Mário Covas Neto, filho do ex-governador Mário
Covas, que foi um dos fundadores do PSDB.
Um dos filiados reclamou que os fundos partidário e eleitoral
"ficam presos com pequi, em Goiás, e nas casas de pão de queijo de Minas
Gerais", em indireta a Marconi Perillo e ao deputado federal Aécio Neves
(MG), ambos envolvidos na negociação pela fusão.
Na moção apresentada pela organização, composta pela
Iniciativa Voz e Ação Tucana e pelo Movimento Contra a Extinção do PSDB,
constam pedidos para que, mesmo após a fusão, o partido mantenha o 45 como
número de urna, o mesmo estatuto partidário, a sigla PSDB na nova legenda e a
ave na identidade visual.
Os presentes reclamaram que, até o momento, o que foi
apresentado da fusão mostrava a perda de identidade do PSDB, com o número de
urna sendo o do Podemos. Um dos filiados fez uma metáfora e citou empresas de
renome no século 20 que, após sofrerem crises e serem incorporadas, perderam
seus nomes, como Varig, Vasp, Mappin e Mesbla.
Em vídeos exibidos no local, tanto Marconi Perillo quando
Paulo Serra, presidente estadual do PSDB, se comprometeram em acatar o que
fosse possível dos pedidos feitos pela ala paulista.
Na mesa que presidiu o evento, Mário Covas Neto disse que a
estrutura do Podemos, partido ao qual foi filiado de 2018 a 2024, é mais
centralizadora e que isso poderia prejudicar a política interna entre os
tucanos. Na ocasião de sua saída do PSDB, ele reclamava que a sigla havia se
distanciado de suas origens e discordava da decisão de lançar o então prefeito
da capital, João Doria, ao governo paulista. Ele retornou ao PSDB no ano
passado alegando participar de um processo de reformulação interna.
"O Podemos funciona de maneira diferente do PSDB, de
como sempre funcionou o PSDB. E o que a gente pretende nesse evento aqui, nesse
manifesto, é dizer o seguinte: 'olha, nós preferimos que o PSDB continue a ser
o que sempre foi'. No sentido de ter uma democracia interna, em que você tenha
convenções partidárias", disse.
O ex-senador José Anibal fez uma autocrítica alegando que o
PSDB se distanciou de seu lado social-democrata e das bases, ao tentar se
contrapor ao PT. Segundo ele, o partido tentou evitar uma "malaise",
que em francês significa mal-estar, ao evitar alardear programas sociais e
focar nas políticas econômicas.
"Tem que defender o legado [social] e tem que operar
sobre esses legados, as políticas públicas. Mas, não, fizemos um pouco mais de
concessões aqui ou lá e olha o que nos restou", disse.
O PSDB chegou a eleger 99 deputados federais e sete
governadores em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, além de contar com
16 senadores. Na eleição nacional passada, quando nem sequer lançou candidatura
própria, fez apenas 13 deputados federais.
A manutenção da ave tucana como principal símbolo da sigla
foi um dos temas mais debatidos neste sábado. Houve mais de uma menção à frase
"não podemos deixar cair nossas bandeiras", do ex-governador Franco
Montoro, um dos fundadores do PSDB. "Se fosse trocar de símbolo, só se
fosse pela jabuticaba, já que a jabuticaba também só tem no Brasil",
brincou José Anibal.
À medida que mais filiados pediam a palavra, o auditório, já
esvaziado, passou a contar com cada vez menos gente. Perto das 13h, muitos dos
tucanos reclamavam de fome. O discurso de um deles, que explicava o porquê do
tucano ser "uma ave brasileira com características nacionais" foi
interrompido.
"Manoel, é importante o que você está falando, mas
agilize, por favor, que está chegando a hora do almoço."
Por Bahia Notícias