Foto: Divulgação / ViaBahia
A ViaBahia, como é conhecida a ViaBahia Concessionária de
Rodovias, foi criada em 11 de maio de 2009 como uma Sociedade de Propósito
específico — uma sociedade empresária cuja atividade é bastante restrita,
podendo em alguns casos ter prazo de existência determinado. O “nascimento” da
empresa aconteceu após o Consórcio RODOBAHIA vencer o leilão de concessão
pública das rodovias federais BR-116 e BR-324, realizado pela Agência Nacional
de Transportes Terrestres. O contrato de concessão assinado tinha duração de 25
anos.
A operação do sistema rodoviário pela concessionária começou
em outubro de 2009. Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
estava na metade do seu segundo mandato como presidente da República, com José
Alencar (PRB), como vice. Na Bahia, o PT também governava pela primeira vez,
com Jaques Wagner cumprindo seu primeiro mandato.
“A ViaBahia Concessionária de Rodovias S.A. ganhou a
concessão para administrar por 25 anos o trecho de aproximadamente 680
quilômetros de rodovias, incluindo as BR-324 — rodovia Engenheiro Vasco Filho,
entre Salvador e Feira de Santana e BR-116 — rodovia Santos Dumont, de Feira de
Santana até a divisa com o estado de Minas Gerais. A concessionária também é
responsável por um trecho total de 13,7 quilômetros das rodovias BA-526 e
BA-528, que fazem a ligação da BR-324 com a Base Naval de Aratu. Integralmente
localizada no estado da Bahia, a extensão cruza 27 municípios, incluindo a
capital Salvador, Feira de Santana, Jequié e Vitória da Conquista",
explica a empresa.
Quando surgiu, a concessionária tinha como acionista
majoritário do Grupo Isolux Corsán. No entanto, em 2015, 80,8% da empresa
foi vendido à empresa Roadis Transportation. Já em abril de 2020, o Grupo
Roadis passou a ter o total do capital social da ViaBahia na medida em que
comprou do Grupo Engevix o restante das ações.
O primeiro movimento contra a empresa aconteceu em julho de
2011, quando moradores do distrito de Humildes, em Feira de Santana, fecharam
uma das pistas da BR-324 em um protesto contra a interdição de um dos acessos
ao distrito pela rodovia. Eles eram contra a mudança do local do acesso ao
distrito para outro, 2,5 km a frente.
Na época, o inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
Carlos Santo informou que os cerca de 100 manifestantes, utilizando pneus e
pedaços de madeira, fecharam um dos sentidos da BR-324. A interdição do acesso
foi feita no dia 30 do mês anterior como medida para evitar acidentes durante
os festejos de São Pedro de Humildes.
Porém, segundo estudo feito pela Via Bahia, os constantes
acidentes na área provocaram o fechamento permanente do acesso. Os
manifestantes liberaram a área cerca de 3 horas depois do início do protesto.
Já em 2013, o já deputado estadual Alan Sanches afirmou que a
concessionária tinha "raiva dos baianos" e, por isso, realizava obras
sem planejamento que afetavam completamente a população. "É necessária uma
postura mais enérgica por parte do governo para que essa situação seja sanada.
Tenho consciência de que melhorias precisam ser feitas, mas tem que haver uma
programação ou ao menos publicidade para que os motoristas não sejam
surpreendidos e penalizados dessa maneira”.
No mesmo ano, o governador afirmou que a concessionária não
estava "realizando um trabalho a altura do contrato firmado". O que
queremos é que o contrato seja respeitado e que os baianos e todos os usuários
das rodovias pedagiadas usufruam de um serviço de qualidade, e executado com a
celeridade que a necessidade requer", afirmou Jaques Wagner.
Em 2014, os radares da BR-324 passaram mais de 4 meses sem
multar ninguém. O trecho entre Salvador e Feira de Santana que, na época, era
considerado um dos mais perigosos do país, possuía 15 radares, mas nenhum deles
funcionava.
Os 15 radares são fixos e foram instalados pela Via Bahia
entre abril e dezembro de 2013. Todo o sistema custou R$ 50 milhões. Em tese,
cada um dos radares conseguiria identificar a velocidade dos veículos em até 50
metros de distância. Na prática, ficaram 11 meses sem uso: ninguém nunca
foi autuado.
Em 2016, os equipamentos foram removidos sem nunca flagrar
nenhum condutor que tivessem cometido excesso de velocidade. A ViaBahia
esclareceu, em nota, que desde a instalação, em dezembro de 2013, os
equipamentos funcionavam apenas “em caráter educativo”. E disse ainda que foram
retirados para uma atualização e que deveriam ser reinstalados no segundo
semestre deste ano.
Em setembro de 2018, a justiça determinou que a
concessionária duplicasse os subtrechos 15 a 20 da BR-116, a partir do Km-735,
no sudoeste do estado, até a divisa com Minas Gerais. Além de pagar R$ 5
milhões por danos morais coletivos, referentes ao atraso nas obras, que
deveriam ter sido concluídas em setembro daquele ano, mas que, segundo o
Ministério Público Federal (MPF), na época em que deveriam ser concluídas elas
nem haviam sido iniciadas.
Em 2020, o atual governador de São Paulo Tarcísio Freitas,
que há época era ministro da Infraestrutura, fez duras críticas a
concessionária, durante visita a Bahia. Tarcísio afirmou que ViaBahia só
executou 30% das obras e deixou de executar 441 km de duplicação.
Ele classificou a concessão como a "pior do
Brasil", por isso, o governo federal iniciou tentativas para encerrar o
contrato com a concessionária. O caso foi parar na Justiça.
“Eles dizem que o contrato sofreu com efeitos econômicos, com
perda de volume. Agora, eu quero dizer que é um contrato que arrecadou 90% dos
recursos previstos no plano de negócio. No entanto, eles executaram só 30% das
obras que ingressaram, posteriormente, pelo fluxo de caixa marginal”, explicou.
Segundo ele, "é inadmissível ter um contrato de
concessão, onde o usuário paga tarifa e tem esse tipo de prestação de
serviço". "É uma coisa que ninguém suporta mais e que nós não
suportamos. É um contrato que deixou de ser executado", disse.
Um ano depois, o Ministério da Infraestrutura, liderado por
Marcello Costa, afirmou que a Via Bahia podia perder a concessão após propor um
aumento de 140% no valor do pedágio da BR-116.
"O grupo apresentou um plano de cura, com um forte
investimento, mas boa parte desse investimento condicionado ao aumento de
tarifa, o que é contra ao que a gente imagina como correto", disse o
secretário nacional de transportes terrestres do Ministério da Infraestrutura,
Marcello Costa.
Já segundo a ViaBahia, o reajuste seria para investir na
requalificação da rodovia. Com isso, o valor da tarifa básica iria de R$ 5,10
para R$ 14. O Ministério da Infraestrutura, no entanto, não concordou e alegou
que as obras já estão previstas no contrato de concessão.
O ADEUS
Em 2023, a Via Bahia solicitou que o Ministério dos Transportes repactuasse
seu contrato para dentro do modelo criado pelo Tribunal de Contas da União. A
empresa não estava com processo de relicitação nas regras da Lei 13.448/2017
solicitado.
No entanto, a reunião de repactuação da concessão só foi
realizada em 2024 e terminou com um acordo entre a empresa e o governo para a
saída da concessionária se disputa.
A concessionária e o ministério vinham tendo problemas desde
o início da concessão porque, na prática, muito pouco dos investimentos
previstos no contrato foram executados em quase uma década de concessão.
A tentativa de repactuação dentro da Secretaria de Solução
Consensual e Prevenção de Conflitos do TCU foi uma nova tentativa de
reequilibrar o contrato para que a concessionária pudesse seguir na concessão e
acelerar as obras.
Todavia, a ViaBahia apresentou um valor de capex para os
investimentos previstos que estavam “muito acima” dos valores que foram
repactuados com outras empresas. Por isso, não se chegou ao acordo para que ela
prosseguisse.
A partir do dia 15 de maio de 2025, o Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes vai assumir a rodovia até uma nova concessão.
Mediante o pagamento de multa e indenização que chegam próximos a R$ 1 bilhão.
Ou seja, a empresa explorou intensamente as rodovias ao longo de 16 anos,
cobrou pedágios sem apresentar melhorias pactuadas e ainda vai embora levando
dinheiro público brasileiro.
Por Bahia Notícias