
Foto: Fellipe Sampaio / SCO / STF
Em evento nesta segunda-feira
(2) em Paris, o ministro Gilmar Mendes, do STF, afirmou que o julgamento sobre
o Marco Civil da internet que será retomado nesta quarta-feira (4) no tribunal,
"pode significar, pelo menos, um esboço de regulação da mídia
social".
A fala ocorreu no Seminário
Franco-Brasileiro de Rádio e Televisão, organizado pela Abert (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) na embaixada do Brasil na França.
Na pauta do STF está a
retomada da análise de recursos contra normas do Marco Civil. Em questão estão
a responsabilidade civil das plataformas digitais por conteúdos de terceiros e
a obrigação de remover conteúdos ofensivos ou de ódio sem ordem judicial prévia.
No discurso, Gilmar afirmou
que o debate sobre o tema no Brasil está em "um momento de inflexão
histórica" que exige "uma revisão fundamental de nossas premissas
conceituais e marcos regulatórios".
Ele chegou a afirmar que a
manutenção do status quo perpetua "um regime de irresponsabilidade"
que permite às plataformas "exercerem poder quase que soberano sobre o
discurso público sem qualquer supervisão democrática".
Em diversos momentos, indicou
um cenário favorável a algum tipo de regulação das plataformas.
Segundo ele, o direito à
liberdade de expressão "tem sido paradoxalmente invocado não para proteger
posições individuais, mas para erguer um escudo protetivo dos modelos de
negócios de empresas em contrapartida às frentes regulatórias".
O Marco Civil da internet é
uma lei de 2014 que estabelece direitos e deveres para o uso da internet no
país. À época, o artigo 19 foi aprovado sob o argumento de assegurar a
liberdade de expressão. O objetivo era evitar que as redes removessem conteúdos
em excesso por medo de serem responsabilizadas.
O ministro do STF expôs razões
pelas quais, para ele, "regular as redes sociais não é tolher ou, de
qualquer forma, mitigar o direito fundamental à liberdade de expressão".
Um desses argumentos seria que
"as plataformas digitais não são meros condutores de informação, mas um
verdadeiro ou verdadeiros reguladores do discurso online".
Outro seria a
"desagregação política no discurso online". "Essa desagregação
não é um efeito colateral da atuação das plataformas, mas sim um elemento
crítico" do modelo de negócio das empresas do setor, segundo ele.
"É legítimo afirmar que
boa parte do sistema de moderação de conteúdo online no Brasil já está
concentrado no exercício de estratégias de autorregulação por parte das
plataformas. A suficiência da autorregulação suscita, porém, controvérsias
diante da veiculação e impulsionamento massivo de conteúdos de terceiros
potencialmente ilícitos", afirmou Gilmar.
"Todos esses fatores
levam a crer que, embora o artigo 19 tenha sido de inegável importância para a
construção de uma internet plural e aberta no Brasil, hoje o dispositivo parece
que se mostra ultrapassado", concluiu o ministro.
Por Bahia Notícias