
Foto: Ricardo Stuckert / PR
Após o presidente Lula deixar Pequim na quarta (14), o
presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ficou para uma missão. Ao lado
do presidente do banco central chinês, Pan Gongsheng, falou a representantes de
instituições e empresas latino-americanas como captar recursos na China.
É o que o próprio Brasil busca, neste momento. Na visão do
governo, a China é hoje uma economia como aquelas que, no passado, eram os
maiores investidores nos títulos públicos brasileiros. Tem juros mais baixos,
um excesso de poupança e uma população que está envelhecendo, à procura de
ativos que deem retorno.
No exemplo dado por um integrante da delegação de Lula, os
chineses comparam um ativo de dez anos que dá 1,5% de juros, em seu país, com
um ativo que dá 15% no Brasil.
A complementaridade China-Brasil, no âmbito financeiro, é
porque faz sentido para empresas e governo brasileiro captarem no mercado
chinês e, para os chineses, faz sentido investir no Brasil.
A força-tarefa encabeçada por Galípolo nas negociações com
Pequim, que começaram em outubro do ano passado e terminaram com êxito nesta
última semana, pavimentaram os caminhos para essa complementaridade acontecer.
Grandes empresas com receita em renminbi, a moeda chinesa,
começam a realizar operações com os chamados panda bonds, títulos em renminbi
emitidos no mercado chinês. Foi o que fez a Suzano, há seis meses, e o que
estuda fazer agora a Vale, companhias brasileiras com operações de grande porte
na China.
A Suzano levantou 1,2 bilhão de renminbis, equivalentes a R$
940 milhões. Empresas europeias como a Mercedes-Benz também já lançaram panda
bonds --e governos europeus, como o húngaro, anunciaram que pretendem fazê-lo
neste ano.
A China vem ampliando o acesso ao mercado de dívida em sua
moeda. Em 2022, por exemplo, permitiu que os recursos levantados no país sejam
usados no exterior.
O memorando de entendimento assinado por Galípolo e Pan,
encerrando as negociações nesta semana, é parte do esforço para abrir ainda um
pouco mais seu mercado financeiro para essas operações, visando facilitá-las
para as empresas e o governo brasileiro.
No evento posterior, voltado à América Latina, segundo o
relato oficial chinês, o presidente do Banco Central afirmou que, diante da
complementaridade e do crescimento no comércio bilateral e nos investimentos,
há uma ampla perspectiva de cooperação.
Que o Brasil espera expandir os canais para o uso de moedas
bilaterais, melhorar a interconexão dos sistemas de pagamento e salvaguardar
conjuntamente a estabilidade financeira e o crescimento econômico.
Já o presidente do Banco Popular da China, o nome do BC
chinês, afirmou que nos últimos anos a abertura financeira do país se
aprofundou, "o mercado de panda bonds se tornou cada vez mais inovador, os
arranjos institucionais se tornaram mais internacionalizados e o uso de fundos
tornou-se mais conveniente".
Segundo Pan, "diante da situação internacional complexa
e grave, a China e a América Latina devem promover a cooperação financeira numa
gama mais ampla de campos e num nível mais profundo, para enfrentar
conjuntamente os desafios".
Os panda bonds estão sendo estimulados paralelamente à
reativação do swap cambial entre os dois países. Na explicação de Galípolo,
dada ao jornal em meio à assinatura dos atos no Grande Salão do Povo, em
Pequim, trata-se do mesmo contrato de swap que o Brasil já tem com os EUA e
visa estabilidade financeira.
Dois integrantes da comitiva afirmaram que as medidas
financeiras adotadas durante a visita de Lula não têm relação com a chamada
desdolarização, o afastamento da intermediação do dólar nas trocas entre Brasil
e China.
Por Bahia Notícias