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Apesar do aumento progressivo da presença de mulheres na política brasileira, elas ainda são minoria sobretudo nos cargos de liderança. Prova disso é que, atualmente, só 3 das 26 Assembleias Legislativas no país são presididas por deputadas.
 

Reeleita presidente da Assembleia do Amapá em votação unânime, Alliny Serrão (União Brasil) é uma dessas três exceções.
 

Formada em direito, ela foi vereadora em sua cidade natal, Laranjal do Jari (AP), antes de se tornar deputada estadual.
 

Relata que a atuação do sogro como vereador e da sogra como deputada estadual despertou nela a paixão pela política.
 

No Maranhão, por sua vez, Iracema Vale (PSB) é quem comanda o Legislativo. Nascida na capital São Luís, filha de taxista e professora e mãe de dois filhos, ela atuou como enfermeira e funcionária pública federal.
 

Na política partidária há três décadas, foi a deputada estadual mais votada do Maranhão em 2022, com 105 mil votos.
 

Completa o trio Ivana Bastos (PSD), presidente da Assembleia da Bahia desde o afastamento do deputado Adolfo Menezes (PSD) do cargo, em fevereiro.
 

De família tradicional da política no sudoeste do estado, está no quarto mandato de deputada estadual.
 

As três afirmam que há peculiaridades em ocupar um lugar de liderança quando se é mulher. Relatam enfrentar preconceitos e falta de reconhecimento.
 

"É preciso lidar com uma cobrança maior para provar capacidade, enquanto o estereótipo e o preconceito impõem barreiras que, em grande parte, não são vivenciadas por colegas homens", diz Alliny Serrão.
 

Ivana relata ter sentido grande apoio dos colegas na primeira eleição, mas diz que o cenário foi diferente na segunda campanha.
 

"Enfrentei mais dificuldades e questionamentos. Alguns homens não se conformam com o fato de uma mulher ocupar um espaço de poder e tentam impedir esse avanço. Foi um processo marcado por tentativas de judicialização e até manobras para refazer eleições, o que evidencia o quanto ainda precisamos evoluir na política quando se trata da presença feminina", afirma.
 

Outro obstáculo é a pressão que mulheres recebem sobre suas vidas privadas. Para Ivana, elas são mais cobradas em relação à presença no ambiente familiar.
 

"Muitas vezes, essa não é uma preocupação da mesma forma para os homens. Apesar disso, enfrento esses desafios com determinação, sabendo que estou abrindo portas para que mais mulheres ocupem espaços de liderança", diz ela, casada, mãe de dois filhos e avó de dois netos.
 

Em 2022, 187 mulheres foram eleitas deputadas estaduais, o que corresponde a 18% das vagas nas Assembleias Legislativas. Em 2018, a proporção era de 15%. No caso do Distrito Federal, cuja casa legislativa é chamada de Câmara Distrital, 4 dos 24 membros são mulheres. O número permanece inalterado desde 2018.
 

O número contrasta com a presença feminina nos partidos políticos: elas são 46% das filiadas, de acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Quando se observa o número de candidatura, a proporção cai para 34% nas duas últimas eleições (2022 e 2024).
 

É um funil, diz a pesquisadora Evorah Cardoso, doutora em sociologia jurídica pela USP. As mulheres, afirma, encontram dificuldades e falta de apoio a cada etapa da carreira política, começando pela candidatura até a permanência ou ascensão nos cargos.
 

Dados do TSE mostram também que, das mais de 187 mil candidatas que concorreram em suas cidades na eleição de 2020, só 24% voltaram a fazer campanha em 2024. Entre os homens, a taxa de "recandidaturas" tem sempre girado em torno de 40%.
 

Desde 2009, os partidos políticos são obrigados a destinar 30% de suas candidaturas a deputado ou vereador para mulheres. Apesar disso, muitas vezes a legislação não é respeitada, e as siglas costumam se articular por anistia para não punir quem desrespeita esse percentual.
 

No âmbito federal, a Câmara e o Senado nunca tiveram presidentes mulheres. Até 2021, nenhuma mulher nem sequer havia concorrido para a presidência do Senado. Na Câmara, a primeira candidatura ocorreu em 2013.
 

O Brasil atualmente ocupa a posição 135 do ranking da atuação de mulheres em Assembleias Legislativas, segundo um levantamento elaborado pelo TSE. O país com mais representação feminina no âmbito legislativo é Ruanda, com 63,7% de integrantes mulheres. Iêmen, Tuvalu e Omã empatam na última posição, 182, com zero representatividade feminina.
 

Afastada da política desde 2022, a ex-deputada federal Manuela D’Ávila diz que a rotina de ataques e ameaças influenciou sua decisão de não se candidatar a nenhum cargo nos últimos anos. Para ela, falta punição para aqueles que praticam violência contra as mulheres.
 

"A naturalização da violência, a ausência de instrumentos e o fato de que são os parlamentares os principais atores na construção da violência política de gênero e de raça são a prova cabal de que não somos benquistas nesse espaço", afirma.

 

Por Bahia Notícias