Na Bahia, 83% das violações acontecem em locais próximos às vítimas Crédito: Shutterstock
A
campanha Maio Laranja chama atenção para os abusos sexuais cometidos contra
crianças e adolescentes em todo o país. Na Bahia, há uma epidemia de crimes
sexuais contra a faixa etária. A cada oito horas, uma pessoa com menos 18 anos
sobre violência sexual no estado. Entre janeiro e a primeira quinzena de maio
deste ano, foram 663 vítimas.
Os
dados fazem parte do painel interativo que reúne os dados do canal Disque 100,
vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH). A ouvidoria
está disponível, gratuitamente, todos os dias, para receber denúncias de
violações contra direitos humanos. Entre os crimes sexuais cometidos contra
menores de idade estão estupro de vulnerável e importunação sexual.
A
cultura que trata crianças e adolescentes como objetos alinhada a uma espécie
de pacto de silêncio dificulta a denúncias de crimes desse tipo, segundo
especialistas. Por isso, Trícia Calmon, superintendente de apoio e defesa dos
direitos humanos do Governo da Bahia, avalia que ações integradas devem ser
colocadas em prática.
“A
violência sexual contra crianças e adolescentes deixa todo mundo perplexo. Por
outro lado, infelizmente, ocorre com frequência. Isso porque há uma cultura
machista e violenta sobre os corpos dessas pessoas, que se sustenta pelo pacto
de silêncio”, avalia Trícia Calmon, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
(SJDH).
Na
Bahia, 83% das violações acontecem em locais próximos às vítimas, especialmente
na casa onde as crianças e adolescentes residem com os agressores. “As pessoas
que acabam testemunhando o crime acabam paralisadas porque são crimes que mexem
com questões morais. O assunto ainda é um tabu, ao mesmo tempo que é
naturalizado”, completa.
Foram
feitas 4.711 denúncias de crimes contra crianças e adolescentes na Bahia neste
ano. As denúncias correspondem 27.573 violações, sendo 1.557 delas sexuais -
isso porque, cada uma pode conter mais de um tipo de crime tipificado. Foram
415 vítimas de estupro e 155 crimes de importunação sexual. A diferença entre
os dois crimes é a violência física, que caracteriza o estupro. O número total
envolve todos os outros tipos de violações, não só as sexuais, como abandono,
falta de acesso à alimentação, educação, etc.
Vítimas
de crimes sexuais carregam as marcas da violência ao longo da vida, como
explica a psicóloga Rosane Silva, especialista em teoria junguiana pela
Universidade Federal da Bahia. “Quando crescem, as crianças podem se tornar
adultos com problemas de autoestima e que têm dificuldades em confiar em outras
pessoas. O medo e a insegurança são característicos, e a pessoa pode estar
sempre questionando sua existência”, diz.
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Correio24horas