Alumínio Crédito: Shutterstock
O Brasil retomou autossuficiência em alumínio e viu
a produção brasileira do metal avançar 24% em 2023, atingindo o patamar de
1,006 milhão de toneladas, apontam dados preliminares da Associação Brasileira
do Alumínio (Abal). O resultado representa a segunda melhora anual consecutiva
após o setor mostrar recuperação de 5,1% no indicador em 2022.
A recuperação na oferta acontece, principalmente,
devido ao religamento do complexo industrial da Alumar, no Maranhão, que voltou
às operações no segundo semestre de 2022 e contribuiu para o incremento da
produção em escala do metal no último ano, encerrando o ciclo de paralisação
que havia sido iniciado em 2015.
Ao Broadcast, a presidente-executiva da Abal,
Janaina Donas, destacou que a perspectiva tanto para a oferta quanto para a
demanda dentro do setor são positivas no Brasil, dado que a indústria tem sido
favorecida pela redução gradual da taxa básica de juros, aliada à continuidade
de tendências estruturais observadas para o crescimento do consumo do metal.
No setor, o alumínio é defendido como estratégico
para a transição energética, devido ao seu potencial de reciclabilidade e boa
condutividade elétrica, além de características favoráveis relacionadas à
resistência mecânica, o que sinaliza para um potencial crescimento do metal em
setores como energia e transportes.
A porta-voz da indústria nacional do alumínio
também mencionou que o Brasil deve encerrar o ciclo de investimentos de 2022 a
2025 com a execução de R$ 30 bilhões em investimentos, fator que sustenta a
visão do setor sobre o potencial crescimento que a demanda pelo metal deve
desempenhar nos próximos anos.
"Estamos falando em investimentos anunciados e
públicos, mas sabemos que existem projetos em amadurecimento e estudo. Os
investimentos acontecem de forma contínua, seja em retomada de produção,
expansão de reservas, modernização da matriz elétrica de fornecimento - dado a
característica eletrointensiva do segmento - mas também há investimentos
relacionados à melhorias de gestão e processos que são vistos como
incrementais, mas na verdade eles são significativos", afirmou Donas.
Na terça-feira, 9, a executiva promoveu a abertura
do 9º Congresso Internacional do Alumínio, e na ocasião defendeu que o Brasil
reúne uma série de vantagens competitivas para o fortalecimento da indústria de
base. Ela destacou ainda o fato da cadeia brasileira do metal ser
verticalizada, estando presente desde a mineração da bauxita até as etapas de
industrialização, comercialização e reciclagem do alumínio em sua forma final.
"Não somos apenas um país exportador de commodities", encerrou Donas.
Consumo
Para os próximos anos, a perspectiva de um aumento
da renda e do padrão de vida da população brasileira deve incrementar o consumo
de alumínio no Brasil, disse ao Broadcast o secretário-geral do International
Aluminium Institute (IAI),Miles Prosser, que representa a indústria de alumínio
no mundo.
Segundo Prosser, o Brasil está bem posicionado para
desempenhar um papel significativo no fornecimento global de alumínio com alto
valor agregado, principalmente em função de dispor de uma matriz energética
limpa e um mercado interno robusto. Com relação ao mercado global, o secretário
mencionou que o consumo de alumínio deve crescer impulsionado por um aumento na
preocupação com a transição energética.
Hoje, o montante mais relevante de consumo de
alumínio no País está presente no mercado de embalagens, mas há perspectivas de
crescimento da presença do metal em outros segmentos. No setor elétrico, por
exemplo, cabos condutores produzidos com alumínio podem favorecer a expansão da
rede elétrica, além da aplicação do metal voltado para a energia solar.
Tensões comerciais
No mundo, há um crescente aumento de pressão por
parte da indústria por incentivos para aumentar a competitividade ou medidas de
defesa comercial, em um contexto de excesso de produção de bens, principalmente
partindo da China, que avançam sobre os domésticos de outros países.
Nos Estados Unidos, o país tem adotado o IRA
(Inflation Reduction Act), que se traduz em um pacote de incentivos para a
transição energética, além da Seção 232, que estabelece uma barreira comercial
mais rígida voltada à proteção estratégica do mercado americano. Na Europa, por
sua vez, o continente adotou o CBAM (Mecanismo de Ajuste de Carbono na
Fronteira, em português), que visa sobretaxar produtos importados que sejam
intensivos em emissões de CO2.
Durante a realização do 9º Congresso Internacional
do Alumínio, o tema foi colocado em debate, com o presidente da Companhia
Brasileira do Alumínio (CBA), Luciano Alves, defendendo que o Brasil discuta
sobre modelos semelhantes que estejam vinculados a garantir igualdade de
competição contra produtos internacionais a partir das emissões de carbono.
Sobre o assunto, Miles disse considerar legítimo a
adoção por parte das nações de sistemas voltados para o ajuste de carbono,
avaliando que a preocupação com a transição energética tem sido crescente no
comércio global.
"Em alto nível, há justificativas para se
apoiar políticas de descarbonização que implementam ações voltadas a garantir
que não existam apenas a imposição de custos às indústrias domésticas. A
dificuldade reside, em muitos casos, no detalhe destas políticas", firmou
Prosser, mencionando que algumas dessas ações podem servir como pano de fundo
para a adoção de barreiras comerciais.
Janaina Donas, da Abal, avalia que a discussão
sobre uma futura aplicação de um sistema de ajuste de carbono na fronteira para
o Brasil é saudável, mas que é preciso que um eventual modelo sobre o assunto
seja discutido para um formato que faça sentido à realidade nacional.
Presente no evento, a Secretária de Comércio
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
(MDIC), Tatiana Prazeres, mencionou preocupação com a proliferação de
"CBAMs" ao redor do mundo. Ela disse que o Brasil pretende levar o
debate ao G20 com foco em garantir que essas regulações tenham mais
transparência e fundamentos voltados para a ciência. Caso contrário, há o risco
das regras serem utilizadas como maquiagem para políticas de defesa comercial.
Por Correio24horas