O dólar comercial subiu 2,29% nesta terça-feira (26), cotado a R$ 4,99, patamar que não era frequentado em um fechamento diário desde 18 de março. Após três dias de fortes altas, a moeda americana acumula ganho de 4,80% frente ao real neste mês, embora ainda apresente queda de 10,5% no ano.
 

O real também teve a maior desvalorização diária entre as moedas de todos os países, considerando o retorno à vista frente ao dólar em uma lista de 150 divisas compilada pela agência Bloomberg.
 

Temores sobre um aumento de juros mais agressivo nos Estados Unidos e de uma provável desaceleração na China devido ao avanço da Covid no país exercem forte pressão negativa sobre ativos arriscados ao redor do mundo, como são vistos por investidores estrangeiros os títulos e as ações ligados a países emergentes, como o Brasil.
 

Restrições às atividades econômicas nas principais cidades chinesas para a contenção do vírus representam ameaças à oferta de insumos e bens, problema que está na raiz da inflação global que está forçando a elevação dos juros.
 

Na Bolsa de Valores brasileira, o índice de referência Ibovespa mergulhou 2,23%, a 108.212 pontos, em um dia de baixas significativas nos setores bancário, de tecnologia e das commodities metálicas.
 

Diante da alta no câmbio, o Banco Central realizou no início da tarde um leilão de 10 mil contratos de swap cambial tradicional.
 

Swap é um tipo de contrato derivativo que permite trocas de taxas ou rentabilidade entre ativos financeiros. No caso do swap cambial tradicional, o título vendido garante ao comprador a variação da taxa de câmbio acrescida de uma taxa de juros. Em troca, o Banco Central recebe a variação da taxa básica de juros, a Selic.
 

O objetivo do BC com esse instrumento é evitar um movimento disfuncional do mercado de câmbio, protegendo a economia contra variações excessivas do dólar. É, na prática, uma injeção de dólares no mercado futuro.
 

Com o aumento da expectativa de oferta futura de dólares, a atuação do BC tende a reduzir a cotação. Mas o impacto nesta terça apenas impediu que a taxa de câmbio passasse dos R$ 5, máxima atingida no final da manhã, antes do leilão.
 

Nos Estados Unidos, o índice de referência da Bolsa de Nova York, o S&P 500, caiu 2,81%. Perdas consideráveis ocorreram no setor de tecnologia, com o indicador Nasdaq tombando 3,95%. Esse segmento é mais vulnerável à alta dos juros, pois possui empresas que precisam de crédito para crescer. O Dow Jones, composto por empresas de grande valor, caiu 2,38%.
 

Mais cedo, o índice de ações que acompanha empresas listadas nas cidades chinesas de Xangai e Shenzhen cedeu 0,81%, após ter afundado 4,94% no dia anterior.
 

O mercado financeiro mundial trabalha desde a semana passada sob o crescente temor de que as restrições a atividades econômicas para o combate ao coronavírus na China provoquem prejuízos às cadeias globais de suprimentos, repetindo uma situação ocorrida no auge da pandemia.
 

A região asiática enfrenta, aliás, uma perspectiva de estagflação — ausência de crescimento econômico ao mesmo tempo em que os preços sobem continuamente —, alertou uma autoridade do FMI (Fundo Monetário Internacional) nesta terça.
 

Riscos inflacionários devido à oferta de produtos vindos da Ásia reforçaram a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) elevará agressivamente os juros para tentar conter a maior inflação no país em quatro décadas.
 

Pairam ainda sobre o mercado receios de que uma dose exagerada da elevação dos juros para controlar a inflação conduza a economia americana à recessão.
 

No centro das preocupações sobre a inflação está o custo da geração de energia devido à disparada da cotação do petróleo. O barril do Brent, referência para a matéria-prima bruta, subia 3,26% no final da tarde desta terça, a US$ 105,66 (R$ 524,70).
 

A commodity retomava a alta após quatro quedas nas últimas cinco sessões, que ocorreram como consequência da expectativa de desaceleração da economia chinesa, principal importador desse produto.
 

Apesar das quedas recentes, o petróleo acumula alta de aproximadamente 35% neste ano. Além do aumento da demanda por energia gerada pela retomada econômica após a redução dos casos de Covid em países desenvolvidos, o prolongamento da guerra na Ucrânia ampliou a pressão sobre os preços.