Durante mais uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades na gestão do Pronto Atendimento Covid, em Cruz das Almas, os vereadores constataram a presença de mais um profissional exercendo indevidamente a medicina na unidade. Ao que tudo indica, o médico é formado em medicina na Bolívia, mas não tem o Revalida - exame obrigatório realizado para validar diplomas médicos expedidos por universidades estrangeiras -, o que impossibilita sua atuação no Brasil. Na sessão desta quinta-feira (16) foi ouvido o ex-coordenador da unidade. 

 

De acordo com o presidente da comissão, vereador Paulo Oliveira Santos (PSD), o médico Henrique Calhau, coordenador do PA Covid à época em que uma falsa médica usou a documentação de uma outra profissional para atuar na unidade (relembre), negou acusações. "O Dr. Calhau foi ouvido, ele disse que a todo tempo a prefeitura tentava atribuir responsabilidades. Isso porque era ele quem contratava e arranjava os médicos para substituir, mas ele negou tudo. Vamos fazer uma acareação, vamos convidar Dr. Hebert [que teria assumido a pasta] para ver se chegamos a alguma solução", disse. 

 

Ao Bahia Notícias, o presidente da CPI informou que existe a possibilidade de outros três falsos médicos terem atuado no município. "Temos a informação de uma jovem que foi atendida na UPA por cinco vezes com uma crise de apendicite, e foi atendida por cinco médicos diferentes. Destes cinco, a mãe da menina, que a acompanhou nas consultas, não reconhece três médicos que teriam atendido a jovem. Estamos apurando, já descobrimos que uma das profissionais atua na cidade de Santa Terezinha, estamos correndo atrás disso, mas não temos 100% de certeza sobre essas suspeitas", ponderou. 

 

Sobre o suposto médico boliviano, o vereador revelou que ele teria atestado o óbito de um paciente. "Puxamos pelo Cremeb, e a família do morto não reconheceu o médico identificado como Dr. Diego. Nós tínhamos fotos das redes sociais do falso médico, e do Dr. Diego real, a família reconheceu o boliviano que, por acaso, também se chamar Diego", disse. 

 

De acordo com o presidente da Comissão, a prefeitura informou que já tinha conhecimento sobre o profissional e que havia dado uma queixa. "Disseram que não divulgaram antes para não atrapalhar a CPI. Percebo que, pelos dados que solicitamos, a prefeitura não tem interesse de fornecer documentos. Se tivessem enviado tudo que a gente pediu, já teríamos fechado o relatório da CPI. A prefeitura pode, inclusive, ser vítima de uma quadrilha que a lesou. No entanto, acredito que eles pecaram na forma de contratação. Como uma pessoa se anuncia como médico e assume o plantão?", indagou. 

 

RELEMBRE O CASO

De acordo com a CPI, instaurada em 24 de maio, uma falsa médica atuava com documentação de Alana Ferreira, que informou nunca ter atuado Cruz das Almas. A própria médica procurou uma delegacia de Juazeiro e registrou queixa apontando ser vítima de falsidade ideológica e falsidade material de atestado ou certidão (lembre aqui). 

 

Na sessão do dia primeiro deste mês, os vereadores solicitaram a presença do secretário de Saúde Sandro Borges, que não compareceu. Ele apresentou um atestado garantindo 14 dias de afastamento das atividades profissionais por ansiedade e hipertensão. Na sessão desta quarta-feira (16), o secretário apresentou outro atestado que lhe garantiu mais 14 dias de afastamento. 

 

A comissão se reúne todas às quartas-feiras e é presidida pelo vereador Paulo Oliveira (PSD). Atuam como relator o vereador Pedro Melo (PT) e secretário o edil Carlos Trindade (PP).